paraíba realiza primeira cirurgia de redesignação sexual e abre portas para mais procedimentos

Paraíba realiza primeira cirurgia de redesignação sexual e abre portas para mais procedimentos

Paraíba realiza primeira cirurgia de redesignação sexual e abre portas para mais procedimentos

A Paraíba testemunhou um marco histórico na área da saúde com a realização da **primeira cirurgia de redesignação sexual (CRS)** no estado. O procedimento, que aconteceu em um hospital particular de João Pessoa, teve como paciente uma jovem transexual paraibana, maior de idade. A equipe médica responsável é composta inteiramente por profissionais naturais da Paraíba, o que reforça a importância deste avanço para a região.

Um marco para a saúde trans na Paraíba

Até então, a Paraíba havia registrado procedimentos como mastectomias masculinizadoras, mamoplastias de aumento e faringoplastias para pessoas trans. A cirurgia de redesignação sexual, que envolve a mudança da genitália, era uma lacuna que agora é preenchida. O médico João Pedro Lacerda, cirurgião responsável pelo procedimento, explicou que a ausência anterior se devia à **falta de uma equipe capacitada**. “Ela não havia sido realizada antes por falta de equipe capacitada. Mas o cirurgião capacitado tem autonomia para realizar o procedimento”, detalhou.

Como é feita a cirurgia de redesignação sexual

O processo cirúrgico para a redesignação sexual de uma mulher trans envolve a retirada dos testículos e a remodelação dos tecidos para a formação da chamada **”neovagina”**. “Os testículos são retirados, o resto do tecido é remodelado para formar a neovagina. Fazemos uma ‘redução’ da uretra, a glande forma o clítoris e o tecido da região escrotal é utilizado para formar os pequenos e grandes lábios”, explicou o Dr. Lacerda. O procedimento tem duração estimada entre quatro e seis horas.

Cirurgia garantida por lei e custeada por plano de saúde

O inédito procedimento na Paraíba foi custeado pelo **plano de saúde** da paciente, após ela acionar a justiça e obter ganho de causa. O custo estimado da cirurgia gira em torno de R$ 100 mil. É importante ressaltar que a cirurgia de redesignação sexual é **garantida por lei** pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2010. Em 2023, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) confirmou a obrigação das operadoras de planos de saúde em custear esses procedimentos, considerando-os como procedimentos de afirmação de gênero e não estéticos ou experimentais.

Desafios e preconceitos enfrentados pela população trans

Apesar dos avanços legais, a população trans ainda enfrenta **grandes dificuldades** para realizar o procedimento, seja por “falta de adequação nas normas ou por falta de equipe capacitada”, segundo o Dr. Lacerda. Ele também destacou o **preconceito** enfrentado por profissionais que desejam atuar com o público transexual. “Muitos profissionais não querem trabalhar com esse público. Então não é fácil montar uma equipe, mas estamos buscando melhorar mais ainda nosso serviço e procurando pessoas dispostas a somar”, relatou.

O médico compartilhou experiências onde observou a orientação a pacientes para buscarem outros locais devido a preconceitos religiosos ou à visão equivocada de que a transexualidade é um distúrbio mental. “Tenho certeza que em grande parte é por preconceito. Já vivenciei no serviço público chefes de serviço orientado a encaminhar as pacientes para outros lugares por que não queriam operar a população trans por questões religiosas”, desabafou. Ele enfatizou que a vivência com pacientes trans é de respeito e tranquilidade, e que a cirurgia proporciona uma profunda sensação de realização pessoal.

A cirurgia como ferramenta de afirmação de gênero e alívio da disforia

O Dr. Lacerda fez questão de esclarecer que **”não há necessidade de se realizar nenhuma cirurgia para ser uma pessoa trans”**. A cirurgia plástica, quando realizada, serve como uma forma de tratar a **disforia de gênero**, que é o sofrimento causado por características físicas que não se alinham com a identidade de gênero da pessoa. “Algumas pacientes apenas com terapia hormonal e mudanças não cirúrgicas se sentem bem com seu corpo, sem necessidade de cirurgia”, explicou.

Expectativas e o futuro da saúde trans na Paraíba

A expectativa com a realização desta primeira cirurgia é que ela seja **”a primeira de muitas”** e que um serviço no SUS possa ser organizado para atender mais pacientes. “Que a partir dela nós consigamos organizar um serviço no SUS para oferecer as cirurgias para mais pacientes. E que a população saiba que há, sim, profissionais com os quais elas possam contar”, afirmou o cirurgião.

Segundo levantamento dos Centros Estaduais de Referência LGBTQIAPN+, a Paraíba possui **1.380 pessoas trans com identidade de gênero feminina cadastradas**. A Secretaria de Estado das Mulheres e da Diversidade Humana (SEMDH) vê a cirurgia como um “avanço relevante na ampliação do cuidado especializado” e estuda, junto à Secretaria Estadual de Saúde, a **possibilidade de implementar o procedimento na rede pública**. A identidade de gênero autodeclarada é o critério fundamental para o acesso aos procedimentos de saúde, garantindo o respeito e a integralidade do cuidado para a população trans.

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