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O trágico incidente que culminou na morte de Gerson de Melo Machado, de 19 anos, após invadir o recinto da leoa Leona no Parque Zoobotânico Arruda Câmara, em João Pessoa, no dia 30 de novembro de 2025, expôs um **histórico de vulnerabilidade e a gritante falta de amparo para a saúde mental** do jovem. A conselheira tutelar Verônica Oliveira, que acompanhou Gerson, concedeu entrevista ao programa Arapuan Verdade, da rádio Arapuan FM, e detalhou a complexa trajetória do rapaz.
Segundo a conselheira, Gerson não contou com suporte familiar ou psicológico adequado ao longo de sua vida. A mãe do jovem, que também enfrentava problemas de saúde mental, teve Gerson e seus irmãos colocados para adoção. Em um dos episódios mais dolorosos, quando Gerson tinha apenas 10 anos, ele tentou restabelecer contato com a mãe, mas foi rejeitado de forma contundente. “Não entre, não venha, não fique perto de mim. Não sou mais sua mãe, o juiz disse que não sou mais sua mãe”, relatou a mãe, segundo a conselheira.
Verônica Oliveira ressaltou que a mãe de Gerson, na ocasião, não agiu por crueldade, mas sim por sua própria negligência em relação à saúde mental. “Ela também foi uma mulher negligenciada na sua saúde mental. Ela é, é gritante. Ela não sai do surto. Ela fica em surto o tempo inteiro”, explicou a conselheira, acrescentando que foram feitas tentativas de reaproximação, mas sem sucesso devido às condições da genitora.
A conselheira tutelar foi enfática ao afirmar que Gerson foi uma “criança sem direitos” e que “precisava de cuidados na saúde mental”. Ela destacou que o jovem deveria ter recebido atendimento da rede de saúde mental desde os primeiros sinais de que ele era diferente. “Gerson deveria ter sido atendido pela rede de saúde mental já nos primeiros anos em que foi identificado que ele era diferente. Como Gerson, nós temos diversos no conselho tutelar”, declarou.
É importante notar que, durante o período em que foi acompanhado pelo conselho tutelar, Gerson **não tinha envolvimento com drogas**. “Tinha uma coisa interessante nessa época. Gerson não usava drogas”, disse a conselheira, desmistificando possíveis suposições sobre o uso de substâncias.
A falta de vagas e a demanda crescente por atendimentos em saúde mental foram apontadas pela conselheira como um problema crônico, agravado após a pandemia. “Nós hoje temos uma demanda de saúde mental, pós pandemia absurda. Nós não temos mais para onde encaminhar. Porque não tem vaga”, lamentou Verônica Oliveira. Ela mencionou que apenas o Instituto dos Cegos e o Centro de Referência à Pessoa com Deficiência atendem toda a população de João Pessoa, e que a Funad, que atende o estado, já não tem mais condições de absorver a demanda.
Diante desse cenário, a conselheira tutelar classificou o **poder público como o maior culpado pela omissão** no caso de Gerson. Ela descreveu a situação como uma “crônica de uma morte anunciada”, ressaltando que o jovem teve mais de 200 encaminhamentos, mas sem a devida resposta do sistema de saúde.
Gerson de Melo Machado morreu após entrar no recinto da leoa Leona, no Parque Zoobotânico Arruda Câmara. O incidente ocorreu em um dia em que o parque recebia muitos visitantes, que filmaram o ocorrido. O corpo do jovem foi submetido à necropsia, que indicou como causa da morte choque hemorrágico, decorrente de ação perfurocontundente em vasos cervicais. Um exame toxicológico complementar também foi solicitado. O corpo foi reconhecido por familiares e o enterro estava previsto para a tarde do dia seguinte ao incidente.